domingo, fevereiro 25, 2007

De volta ao Penedo Furado

Apresento-vos um filme caseiro feito este fim-de-semana.
Os meus dotes de realizador deixam um pouco a desejar (não é desta vez que vou ganhar um Óscar!), de tal modo que o Penedo Furado até parece feito de gelatina... Mesmo assim julgo que dá para ficar a conhecer, com algum pormenor, este Geossítio.



"Torna-se importante enfatizar (...) o monumento natural do Penedo Furado que se localiza na margem norte da Lagoa de Óbidos, na povoação da Foz do Arelho. Este constitui um relevo residual deixado pela erosão das formações geológicas das quais fazia parte. A sua aparência de um pequeno cabeço isolado na paisagem atravessado por uma abertura em forma de arco, fez com que fosse notado pelas populações e levou as autoridades locais a preocuparem-se com a sua preservação.
O Penedo Furado foi esculpido em formações geológicas constituídas por uma sucessão de camadas de arenitos de grão médio a grosseiro, por vezes, muito grosseiro, ocorrendo níveis com presença abundante de seixos e calhaus rolados que atingem grandes dimensões. A componente mais fina é, fundamentalmente, do tipo siltoso, sendo, no entanto, mais escassa. Ocorre uma alternância muito marcada entre níveis mais finos e mais grosseiros, sendo visíveis por todo o afloramento estruturas de estratificação entrecruzada."

Fonte: INSTITUTO DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, et al.. (2005). Área de Paisagem Protegida de âmbito Regional da Lagoa de Óbidos: Dossier de Candidatura à Classificação, p. 26.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Graffiti On The Rocks

As imagens de graffitis que se encontram em Brilha (2005), pág. 50, e Gray (2004), pág. 134, levaram-me a efectuar algumas pesquisas sobre este fenómeno, nomeadamente em rochas.
Do ponto de vista da geoconservação trata-se, numa primeira análise, de um factor de degradação aliado, conforme salienta Brilha (2005), a uma certa “falta de sensibilidade do público”.
Mas será que é esse o único aspecto a considerar?
De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, grafite é um “rabisco ou desenho simplificado, ou iniciais do autor, feitos, geralmente com spray de tinta, nas paredes, muros, monumentos etc., de uma cidade”, já grafito é definido como “inscrição ou desenho feito sobre rochas ou paredes, em épocas antigas os grafitos são importantes fontes de estudos arqueológicos e linguísticos”.
Pode-se dizer que o graffiti é uma forma de expressão que tem acompanhado o Homem desde os tempos mais recuados até à actualidade.
Se fizermos um esforço ficcional e conjecturarmos a hipótese de um cataclismo, que elimine parte substancial da informação que produzimos, não serão os graffitis inscritos nas rochas uma fonte privilegiada, para o bem e para o mal, de “conhecimento” para distantes gerações?
Deixo-vos algumas imagens de graffitis: uns mais antigos do que outros; uns mais artísticos, outros nem por isso; uns que valorizam a rocha onde estão inscritos, outros que a desfiguram por completo.
Fica ao critério de cada um determinar onde acaba o vandalismo e começa a arte, ou vice-versa.















































Fontes:

Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação.
Gray, M. (2004). Geodiversity.
Imagens: pesquisa no Google por "graffiti rock".

domingo, fevereiro 11, 2007

Grutas de Lapas



Lapas

As margens do Almonda coincidentes com a actual povoação de Lapas foram decerto ocupadas por povoadores muito antigos.
Há algumas décadas, quando se procedia a obras numa fábrica, foram postos a descoberto importantes vestígios neolíticos: machados, enxós, cerâmicas e outros artefactos votivos, indiciadores da existência de uma necrópole.
A origem do aglomerado perde-se nos tempos medievais.
A confraria do aglomerado, cujo compromisso data de 1212, é bem reveladora da antiguidade da povoação.
De resto, em 1527, ano em que se efectua o primeiro cadastro da população do reino, a aldeia contava com cerca de 400 habitantes, assumindo relativa importância no contexto da região e em particular do concelho de Torres Novas, do qual foi sempre o segundo aglomerado até quase aos nossos dias.
O passado medieval de Lapas espelha-se bem na configuração actual da povoação. Implantada num pequeno morro próximo do rio, desenvolve-se numa sucessão de ruelas estreitas e curiosos recantos que lhe conferem singular beleza e tipicismo.
Em Lapas, recorda um velho dito popular, “os vivos andam por baixo dos mortos”. É que, sob as casas e a Igreja onde antigamente perto dela se faziam enterramentos, desenvolve-se uma extensa e intrincada rede de grutas. As grutas que deram nome à povoação e delas constituem o verdadeiro “ex-libris”.

As grutas

As galerias hoje abertas ao público e guardadas como Imóvel de Interesse Público são apenas parte de uma rede muito mais vasta que, grosso modo, percorria quase todo o morro onde assenta a povoação. A geologia do solo – calcário mole conhecido por “tufo” – explica a relativa facilidade com que, em tempos, a mão do homem talhou esta singular preciosidade arqueológica.
De quando as grutas de Lapas?
De tempos neolíticos, como defendem alguns – poucos – historiadores que se debruçaram sobre o assunto? Ou antes construídas para refúgio de cristãos primitivos aquando de perseguições dos Romanos?
Uma lenda bastante enraizada no imaginário popular diz que das grutas, uma galeria caminhava até ao Castelo de Torres Novas. De todo impossível esta versão, quer a lenda dizer, como defendem outros, que dali se extraiu o tufo que em parte foi usado na construção de muralhas do burgo torrejano?
A verdade é que está por fazer um trabalho sistemático que desvende o mistério que as Grutas de Lapas encerram.
As sucessivas e diversas utilizações dadas às galerias, ao longo dos séculos, terão decapado eventuais restos arqueológicos que poderiam trazer alguma luz sobre o assunto.
Entretanto, permanecem o mistério e o carácter verdadeiramente singular das Grutas de Lapas, autêntico tesouro do património nacional.”

Texto e imagem extraídos de um folheto de divulgação do Município de Torres Novas.

Vou agora guiar-vos numa visita, em tom intimista, às Grutas de Lapas.


Estávamos em Agosto do ano passado. As informações sobre as grutas e sua localização foram recolhidas no posto do Turismo de Torres Novas.
Para se aceder às grutas, é necessário procurar o Sr. Vítor Manuel, homem da terra, quase sexagenário, e que foi incumbido pela autarquia de “olhar pelas catacumbas”; o que para ele consiste numa grande honra pois “recorda com satisfação as horas que passou com a rapaziada em brincadeiras lá dentro”.
Ao transpor o pequeno portão, a primeira impressão vai para o ar fresco que lá se respira, em contraste com a tarde de Verão que fica lá fora.
Entra-se num mundo diferente. Um mundo que, sabe-se, foi talhado pela mão do homem, mas que em tudo é natural e ao qual os pequenos focos de luz em nada retiram a sua escuridão entranhada. Toca-se nas paredes e sente-se rocha.


Uma pergunta, quase de imediato, assalta a mente “porquê esta encruzilhada de galerias, sem salas, apenas uma rede de caminhos que se cruzam?”, “sabe-se lá! Há tantas histórias…”
De repente apagam-se as luzes! “Não se assustem! Devem ser os gaiatos que gostam de pregar sustos à malta!” e lá vai o Sr. Vítor ligar o disjuntor, junto à entrada, num passo rápido de quem já não precisa de ver o chão que pisa…



“Isto por aqui deve ser pouco visitado, não?” resposta pronta “Nem pense nisso! Isto aqui tem muito movimento. Chegam-se a fazer aqui almoços e jantares para 30 ou 40 pessoas! Quem utiliza isto muito são os estudantes, a malta de Coimbra e esses assim. Até já se fizeram aqui Noites de Fado!”.
Ficámos também a saber que as grutas ocupavam uma área muito mais extensa mas que, ao longo do tempo, os donos das terras começaram a utilizar as galerias subterrâneas para os mais diversos usos, nomeadamente como armazéns, tendo sido “uma carga de trabalhos” convencer a população a deixar intacta aquela zona que ainda não tinha sido ocupada.
Depois de tirar umas fotos, para preservar a memória, voltámos para o calor da tarde, com uma fresca impressão de termos estado num sítio precioso.



Breves considerações finais

As Grutas de Lapas são consideradas Imóvel de Interesse Público, sendo já antiga a sua classificação (Decreto 32973, de 18-08-1943). Estão também consideradas no PDM de Torres Novas, no artigo 68º do seu regulamento (Servidão de Imóveis Classificados) aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 16/97.
O uso que delas é feito actualmente não parece ser o mais adequado, podendo eventualmente até contribuir para a sua degradação; mas, tratando-se agora de um uso essencialmente recreativo, não será uma forma de preservar este espaço, mantendo-o numa relação de proximidade com a população, evitando assim que a memória se apague?

domingo, fevereiro 04, 2007

Um esforço de geoconservação

Notícia do jornal Oeste Online em 30-12-2006:

"O Penedo Furado, monumento geomorfológico localizado na Foz do Arelho, junto à Lagoa de Óbidos, tem vindo a sofrer obras de salvaguarda.

Afectado por problemas de degradação, as intervenções têm vindo a ser efectuadas de forma faseada, revela o presidente da Junta, Fernando Horta."


sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A complexidade dos processos geológicos ou como ficarmos enterrados em lama até ao pescoço!

Ainda temos muito a aprender sobre os segredos da Terra!
Prevenção é a palavra de ordem.
Apesar dos avanços da ciência e da técnica, o nosso conhecimento sobre os complexos processos geológicos ainda é muito incipiente e, quando menos se espera, fazemos asneira…


Recursos minerais, sustentabilidade e Declaração de Milos

Os recursos minerais são finitos, pelo menos dentro da escala temporal do Homem. O que é que nós fazemos? Gastamos esses recursos como se não houvesse amanhã! E de facto não vai haver…é tudo uma questão de pura lógica: se gastamos continuamente, e de forma crescente, algo que é limitado, mais cedo ou mais tarde não teremos mais nada para gastar. Quando esse dia apocalíptico chegar como é que nós iremos viver? Onde iremos buscar as matérias-primas e a energia para suportar o nosso modo de vida?
Os sectores políticos e económicos não estão directamente preocupados com esses pormenores, o ciclo temporal dos mandatos e dos indicadores de mercado é demasiado curto para se poder pensar no colapso dos recursos minerais.
É certo que existe uma preocupação generalizada e assiste-se a todo um discurso em prol da redução da exploração de recursos, mas não se verifica a passagem da teoria à prática. E como é que tal poderia acontecer? Nós insistimos em manter os mesmos padrões de consumo. A palavra sustentabilidade fica-nos bem mas não entra no carrinho de compras.
Urge tomar medidas mais efectivas tais como evitar o consumo supérfluo, evitar o desperdício, incentivar a reutilização e a reciclagem, mas hoje não. Talvez amanhã…
Mudando um pouco de tom: ao efectuar algumas pesquisas na Internet sobre a questão dos recursos minerais e sustentabilidade, deparei com a Declaração de Milos. Parece-me um texto interessante que procura, de alguma forma, promover a sustentabilidade junto da indústria mineira, e de todos quanto a ela estão ligados, promovendo uma discussão em torno de três aspectos essenciais: responsabilidade profissional, educação/habilitação técnica e comunicação.
Deixo-vos, até breve, com a imagem de um paradisíaco exemplo de geodiversidade.



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